
A história da saga “Crepúsculo” envolve dois elementos que precisam se integrar bem para que um filme funcione. O primeiro e mais óbvio é a fantasia. Vampiros e lobisomens, duas raças que se odeiam há séculos, estão por todos os cantos da pequena Forks, a cidade americana onde se passa a trama. O outro é a humanidade. Bella Swan (Kristen Stewart) é uma adolescente prestes a se formar na escola, com aquelas questões bem conhecidas da idade: futuro, amor, desejo e sexo. Para ela, a fantasia serve como uma analogia de algo maior. “Que vida quero levar?”, Bella se pergunta o tempo todo entre as decisões de permanecer com um vampiro pálido e imortal ou se aventurar com um lobisomem sarado e, digamos, mais “quente”; entre a vontade de também se tornar vampira ou o medo do que isso pode acarretar; entre ir embora para descobrir o mundo ou ficar ao lado de seus amigos e parentes que a amam.Descontados os seres fantásticos, são as mesmas escolhas de qualquer jovem com 16, 17 ou 18 anos. Ao se focar nelas, “A saga Crepúsculo: Eclipse”, o terceiro filme da série, que estreou ontem, acerta ao compreender que a fantasia deve estar a serviço da humanidade, e não o contrário. Por isso, é a melhor das três adaptações dos livros escritos pela americana Stephenie Meyer (os outros foram “Crepúsculo”, de 2008, e “Lua nova”, do ano passado).
Com direção de David Slade, “Eclipse” se inicia com Bella entregando suas questões para a plateia. Ela quer que seu namorado, o vampiro Edward Cullen (Robert Pattinson), torne-a imortal como ele. O rapaz, por sua vez, quer casar, formar família, tem sonhos humanos. Pode-se dizer que um almeja o que só o outro tem. Mas há um terceiro elemento nisso tudo: Bella também gosta do lobisomem Jacob Black (Taylor Lautner), um personagem que era apenas fofinho nos filmes anteriores, mas que agora assume a postura de galanteador, meio cafajeste do bem. Jacob ama Bella e lhe oferece a vida que Edward não poderia lhe dar.
Mas as garotas, por mais que gostem de flertar com os cafajestes, acabam sempre escolhendo os bons moços. Edward é um tipo que reprime o desejo de Bella, o que soa estranho quando lembramos que histórias de vampiros são sempre repletas de desejo. Sua sede de sangue, nos clássicos do gênero, é praticamente sexual, quase incontrolável. Fica esquisito, então, ouvir um vampiro dizer algo como: “Não, Bella, só depois do casamento.” Sabedoria? Maturidade? Ou simplesmente alguma mensagem de fundo religioso passada à frente por Stephenie Meyer, uma fiel mórmon, praticante e pregadora?
Nenhum comentário:
Postar um comentário