quinta-feira, outubro 29, 2009

Indiferença

Quando saías esta manhã de tua casa levando pela mão o teu filhinho, fiquei admirando os seus sapatos novos, o seu lindo capote de lã, a sua pasta de couro cheia de livros e a farta merenda que ele levava para o colégio.Tu me olhaste com desprezo e seguraste o braço do teu filho, com receio que ele me tocasse.Pensaste, por acaso, no meu infortúnio, no meu abandono, nos meus pés descalços e na minha roupa toda rasgada?Será que eu poderia contagiar teu filho?É claro que te esqueceste imediatamente do incidente; subiste no teu automóvel e te perdeste no tráfego louco da cidade, como se perdem sempre todos os meus sonhos.Ali, só e abandonado dei asas à minha imaginação e fiquei pensando: que diferença existe entre mim e aquele garoto?Temos mais ou menos a mesma idade, nascemos na mesma pátria; enquanto ele joga futebol com bolas coloridas, eu chuto pedras; ele dorme agasalhado em sua cama macia, e eu me deito no chão sobre jornais velhos; ele tem comida gostosa e variada, e eu tenho que catar algo nas latas de lixo; ele vai ao colégio para aprender a ler e escrever, enquanto eu vivo na rua aprendendo a roubar e a me defender.São essas, por acaso, as nossas diferenças?Será que a culpa é minha?Será que sou culpado de ter nascido, sorrir sem saber quem é meu pai e tendo por mãe uma mulher sofrida e ignorante? Não fui eu que decidi não ir à escola e também não é minha culpa não ter casa para morar e nem comida para me alimentar.Alguém resolveu assim e eu nem sei quem foi!Não posso culpar ninguém porque a minha ignorância nem isso permite.

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